quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A solitária

Sempre fora uma mulher solitária. Volta e meia busca seu quarto, cômodo predileto da casa e, arrodeada de livros, mergulha numa realidade esquisita e melancólica. Por quê os livros trazem tanta melancolia? É como se fossemos personagens das suas histórias e chorássemos todas suas lágrimas. Aquela senhora, oitentona, intelectual, sempre fora pouco social, tivera sempre um empecilho para sair, todos inadequados à ocasião, deixando transparecer sempre: "Não vou, quero ficar só!" E ninguém conseguira derrubar aquela negativa. Não era medo de sair era fascínio pela solidão. Cansara de dormir naquele casarão, onde os fantasmas têm medo de ir pois lá habitam as piores das assombrações: o próprio passado, impregnado em nossa própria alma, inapagável, intransferível.

Quanto mais o ser humano coloca barreiras em sua vida, mais elas aumentam e tomam proporção descabida, a ponto daquela senhora dizer-se presa em casa, imaginem, refém de um gato e três calangos, animais de estimação frequentadores do seu quintal.