Na vida, observo as cenas do quotidiano e procuro tirar delas o cômico que há. Estava na nossa casa de praia, na casa ao lado, três coroas faziam croché, junto à mais idosa uma jovem sentada ao chão.
Era um crocheterapia, cada uma delas cozia conforme sua personalidade, podia se perceber de longe, o momento que cada uma vivia.
A mais velha, cozia e deixava a agulha despencar em seu colo, dormindo e crochetando. A jovem sentada ao chão, brincalhona, começava a tossir, a coroa se assustava, suspendia a agulha e recomeçava a cozer. Cochilava novamente... Era um croché sem fim!
A mais tagarela, cozia apertando a linha no dedo indicador, ao ponto de arroxeá-lo, pois falava de problemas mal resolvidos. Era o croché mágoa, roxinho, roxinho!
A viúva saudosa, conformada e romântica, cozia e observava o céu, os pássaros, a ponto de confundir urubu com pássaro preto. Parecia estar cozendo no Jardim do Éden esperando a Carruagem para o paraíso. Era o croché ilusão, típico de pessoas que voam sobre a realidade, difícil de vivê-la.
Na verdade, nenhuma peça foi concluída, era uma terapia igual a todas as outras, não se chega a conclusão nenhuma, o croché ficou cheio de imperfeições, desmancha-se tudo para recomeçar outro dia... enquanto seu lobo não vem.
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